sexta-feira, 26 de maio de 2017

O dia que um adolescente conquistou um menino de oito anos

Sempre olhei com desconfiança aqueles sites, blogs e seções de jornais contendo “dicas de”, especialmente voltadas à educação dos filhos: “Nossa, se estamos precisando de manuais que nos ensinem a como conduzir a formação de nossos rebentos, algo parece não estar certo”.
            No entanto, vez por outra, numa hora de desespero, e se o bolso está apertado para pagar a conta de um terapeuta, acabamos nos valendo desse socorro ao alcance de alguns toques, especialmente em tempos de internet. E em se tratando de literatura, não é diferente.
            Certa vez, achei meu guri meio desanimado para ler. Então resolvi tentar uma das famosas dicas de “como  despertar o interesse pela leitura”. Na época, ele devia estar com uns oito anos de idade, já se interessando por gibis da Turma da Mônica Infantil e alguns mangás ( histórias em quadrinho feitas no Japão, cujos personagens têm os olhos bem grandes). Resolvi dar uma garimpada nas livrarias de minha cidade e descobri uma preciosidade : uma adaptação de Tom Sawyer, de Mark Twain, em quadrinhos. E o mais interessante: as ilustrações eram com traço de mangá! Comecei a folhear as páginas e me encantei com as peripécias do protagonista, o jovem órfão Tom Sawyer, que se envolve em mil aventuras com seu melhor amigo Huck e, por conta das artes que apronta, vive de castigo. Além disso, é apaixonado pela bela menina Becky, a quem vive tentando conquistar. Bem, e onde entra a dica?
            Segundo alguns desses guias motivacionais de leitura, uma tática é deixar o livro em cima de um móvel, bem à vista da criança, assim, como se tivesse sido largado por acaso ali, para que ela o encontre: tipo “achei uma surpresa, o que será?”, para despertar a curiosidade. E foi o que fiz com o Tom Sawyer: deixei-o em cima de nosso sofá da sala. Combinei com as demais pessoas de minha casa para não o removerem de lá. Um dia, entrando em casa, a surpresa: meus filho, sentado no sofá, perninha de índio, concentrado com o livro na mão. Eu disse: E aí, Rafa, encontrou o livro, é?
-       Eu sabia que eram pra mim ( deu uma risadinha).
-       E tá gostando?
-       Tô adorando! Esse menino é muito engraçado.
            Daí pra frente, Tom Sawyer passou a ser nosso companheiro noturno de aventuras, pois, às vezes, eu lia algumas páginas para o Rafa antes de ele dormir. E nas partes em que aparecia o Tom querendo namorar a Becky, meu filho ficava todo envergonhado, já dando sinais da pré-adolescência que se aproximava.
            E se alguém tem preconceito com as adaptações, vale a pena rever seus conceitos: elas podem ser a porta de entrada para os originais.
            Fica a dica.
            Até nosso próximo encontro.

                       

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